Organização do Estado Quilombola
Muito se fala na vida em um quilombo. Eu imaginava tratar-se de um bando de escravos fugidos que se embrenhavam na selva vivendo como guerrilheiros durante um curto período até que fossem mortos ou recapturados. Mas esta não é a verdade. Talvez a versão que ensinaram nas escolas de meu tempo, na qual ainda havia muito preconceito que me fazia acreditar que os indivíduos escravizados eram incapazes de se organizar e levar uma vida humana e digna.
Já se tem notícias de comunidades organizadas pelos escravos fugidos desde 1597 quando, numa carta do Padre Pero Lopes, provincial dos jesuítas em Pernambuco, há referências a grupos de escravos revoltados. Palmares durou em torno de 200 anos e tinha uma organização política com leis e costumes próprios. As leis em Palmares eram muito duras, com pena de morte para ladrões, homicidas, traidores e desertores.
Além de praticarem a caça e a pesca, eles plantavam milho, mandioca, feijão, legumes, fumo, e cana-de-açúcar, que abasteciam a comunidade e eram também comercializados com povoações vizinhas, que viviam em perfeita harmonia com os quilomobolas. As palmeiras que conferiram o nome à comunidade fornecia matéria prima que era utilizada para a confecção de esteiras, vassouras, chapéus, cestos; o coco para fazer óleo; a casca de algumas árvores que serviam para fazer roupas. A produção de Palmares servia para supri-la de outros bens, inclusive as armas com as quais se defendiam das investidas dos latifundiários e ruralistas da época. Não se sabe a língua predominante, mas falavam português e havia liberdade religiosa, com a existência de igrejas católicas. Ali conviveram também índios e brancos perseguidos pela intolerância religiosa dos católicos, que não admitiam outras crenças e que foram se refugiar em Palmares.
A organização deste verdadeiro “estado” contava com inúmeras aldeias. Palmares chegou a contar com nove aldeias: Macaco, Andalaquituche, Subupira, Dambrabanga, Zumbi, Tabocas, Arotirene, Aqualtene e Amaro. A ocupação holandesa dificultava a repressão a Palmares, que se tornou mais acirrada após sua expulsão. Quilombos eram vistos como um mau exemplo aos escravos, incitando-os a fugir e viver de forma livre. Em Palmares existiam também questões políticas, como a que levou Zumbi ao poder, após envenenar Ganga Zumba, o antigo líder que, após ter seus filhos e ele mesmo presos, fez um acordo com os “brancos”. Pedro de Almeida, governador de Pernambuco, temendo uma reorganização futura do quilombo após a prisão, propôs um acordo de paz a Ganga Zumba: ele passaria a obedecer à Coroa Portuguesa. Assim ele seria libertado e a cidade seria preservada. Mas isto não agradou a forças populares mais progressistas que viam com desconfiança tal acordo com o Governador Geral, provocando a revolta que matou Ganga Zumba e o poder passou a Zumbi.
Como vemos, os quilombos eram organizações sociais complexas e completas com todos os ingredientes de um estado. Não estamos tratando de “pobres coitados” sem eira nem beira: estamos falando em pessoas com capacidade administrativa, militar e política que dominou extensas áreas do Brasil e que nos deixou seu legado.
Muito bom seu artigo. Parabéns.
Edilza
Obrigado…
Saudações!
Amigo Erick,
Com sinceridade o seu artigo, educativo, e em muito ajuda a desmistificar impressões errôneas que ficaram quando recebemos a época na escola. Gostei muito da sua explanação, e em especial o registro importante que Pedro de Almeida fez na tentativa de conciliação.Confesso que não sabia dessa parte.
O artigo que merece ser conferido por todos!
Parabéns pela excelente narrativa!
Parabéns pelo Post!
Abraços fraternos,
LISON.
Obrigado Lisonn pela paciência em ler o texto e pela consideração ao elogiá-lo. Muito obrigado.
Nossa história é repleta de exemplos em vários momentos, e esta data é oportuna para repensar e aprender sobre seu belo artigo. Admirável exemplos como Palmares, Canudos entre outros, há um que me sensibiliza deste a adolescência: Delmiro Gouveia. mas um tanto esquecido ou não conhecido…
Abraços e bom fim de semana.
É uma boa idéia para pesquisa: Delmiro Gouveia que emprestou seu nome à antiga Pedra e construiu, em uma época remota uma indústria no nordeste, em Alagoas, e contrariou a tese de que no nordeste seria impossível construir um empreendimento rendoso… Vou publicar um estudo sobre ele. Obrigado pela dica.